A situação da USP e um balanço da gestão Zago
O Reitor Zago, em uma audiência com docentes durante a greve de 2014, afirmou que seu antecessor, J. G. Rodas, tinha “tratado os professores da USP a pão e água”. E qual tratamento a USP e seus professores receberam do Reitor Zago, que na campanha eleitoral, se dizia, em contraponto a Rodas, o “Reitor do diálogo”? Logo após a posse, Zago anunciou o esgotamento das reservas da universidade, informação que sonegara durante a campanha eleitoral, impedindo dessa forma o debate no conjunto da comunidade universitária sobre a construção de medidas para enfrentar a crise de financiamento da USP. Ao contrário da opinião da Reitoria, tal crise de financiamento foi causada fundamentalmente pela expansão da universidade (campi, vagas etc.), “apoiada” pelo governo do Estado, mas sem aumento proporcional de recursos, somada ainda ao impacto da recessão econômica dos últimos anos que derrubou o ICMS. Após a revelação das dificuldades financeiras, o diálogo prometido foi encerrado. A Reitoria do “diálogo” rapidamente se tornou a Reitoria da prepotência. Independentemente das opiniões que cada um possa ter sobre as saídas para a crise de financiamento das universidades paulistas, o fato é que essa Reitoria negou-se durante toda a sua gestão a qualquer debate sobre os rumos da USP, até mesmo nas instâncias oficiais da universidade, como as Congregações das Unidades. Sua prática foi sempre remeter ao Conselho Universitário (CO), no menor prazo possível, medidas que afetam profundamente a USP, impedindo assim que as congregações pudessem debater e opinar, como, por exemplo, com os “Parâmetros de Sustentabilidade Econômico-Financeira”, divulgado na véspera do Carnaval e votado logo após o feriado (07/03). Nem mesmo as comissões do próprio CO puderam debater o documento, que foi aprovado ad referedum pelos seus presidentes. E mesmo depois do espetáculo de violência contra os manifestantes em frente ao CO, Zago ainda convocaria em seguida um CO extraordinário (11/04), que poderíamos chamar de “surpresa” em plena semana santa para votar os destaques ao projeto. O mesmo método truculento e antidemocrático foi aplicado anteriormente na aprovação dos PIDVs (Planos de Incentivos à Demissão Voluntária); nas mudanças na forma de avaliação docente, entre outras medidas. Da mesma forma, essa gestão escondeu enquanto pôde o convênio com a Mckinsey, empresa de consultoria, que só foi divulgado após denúncia anônima enviada à Adusp, acordo sobre o qual até hoje pairam muitas dúvidas. O desrespeito ao CO atingiu níveis nunca vistos na universidade. Derrotado em proposta que exigia que as vagas ociosas nas creches da universidade fossem preenchidas, o reitor ignorou a decisão e seguiu em frente com seu plano de fechamento da creche Oeste durante o período de férias, sem sequer comunicar seus profissionais. O ataque às creches, por sua vez, estava alinhado à política de destruição do HU, tanto como hospital do SUS como unidade de ensino complementar aos cursos da área de saúde. Para Zago, em entrevista ao jornal Valor Econômico, o HU “parasita o orçamento da USP”. É preciso, contudo, registrar que a maioria dos membros do Conselho Universitário aceita todos os desmandos do reitor porque defendem a mesma política. Se o método da reitoria foi a prepotência, não menos nefasto tem sido o plano de desmonte da USP. Recusou-se a reivindicar, conforme inclusive proposição do Conselho dos Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp), mais verbas para as universidades junto ao governo do Estado. Nem mesmo as verbas que tinham sido acordadas (mais 0,07% por Lorena, mais recursos pela EACH) ou estabelecidas por lei (complementação do valor pago aos aposentados – Lei SPPrev), mas que não são repassadas pelo governo Alckmin,foram exigidas pelo Reitor. Em contrapartida, todo seu plano de gestão financeira se resumiu em demissões (PIDVs), arrocho salarial e desmonte de importantes estruturas da universidade. Em manifestações na mídia, Zago declarou que a situação orçamentária da USP não afetava seu cotidiano acadêmico, afirmação que todos nós sabemos ser insustentável. Para os professores nem mesmo o “pão e água” da gestão passada. Em todas as campanhas salariais a política foi o arrocho salarial. Derrotada pela greve de 2014, quando tentou implementar o 0% de reajuste, a Reitoria seguiu com a mesma linha nos anos de 2015 e 2016, com reajustes abaixo da inflação, provocando uma perda de quase 10% nos salários dos docentes. Política que segue em 2017, quando se tentará impor mais uma vez um reajuste muito abaixo da inflação. A gestão Zago foi marcada pela implementação de medidas que atacam e descaracterizam a USP enquanto universidade pública, gratuita e socialmente referenciada — um patrimônio público construído pelo esforço de gerações de docentes, funcionários e estudantes e da população do Estado de São Paulo. Essas ações não estão, por sua vez, de modo algum desconectadas da política de ataques recentes aos direitos básicos de todos/as brasileiros/as, materializada nas reformas trabalhistas e previdenciárias do governo Temer e na desastrosa aprovação da PEC do teto de gastos públicos. Em todos os níveis, a justificativa para tais ações se sustentam sobre o falso argumento de que o Estado não tem como aumentar suas receitas. Escondem as enormes isenções fiscais concedidas aos grandes interesses econômicos, fazem vistas grossas aos enormes volumes de sonegação fiscal e recusam-se a discutir uma reforma tributária progressiva, medida mínima necessária para redução dos escandalosos níveis de desigualdade em nossa sociedade.